"O tempo é velho aqui. Mais velho do que a queimada e rachada Terra, mais velho do que arbustos murchos e do que a estrada empoeirada que corre pelo deserto como uma cobra lenta em direção ao horizonte, vacilante sob o calor.
Eu não me lembro mais por quanto tempo estive aqui, mas me sinto como aquela cobra - para sempre em direção a um destino fora do alcance da vista. É somente quando eu olho para cima que eu vejo o que o meu coração almeja. O infinito céu azul. Minhas visões são azuis. Meus olhos estão famintos.
A cabana fica à beira do que um dia provavelmente foi um lago. Quando vou lá fora e piso na varanda durante a hora mais quente do dia, o ar é tão quente que deixa tudo embaçado e ondulado, enchendo o lago com algo parecido com água novamente. Ainda assim aquela miragem não sacia a minha sede pelo azul.
O relógio acima da porta está quebrado. O tempo não é só velho aqui - ele parece simplesmente não passar.
E ainda assim eu espero." Êxodo ganhou segundo lugar no prêmio Harland (concurso de ficções curtas), um prêmio holandês de prestígio para estórias e romances de fantasia e ficção científica. Trata-se de uma estória sobre o fim do mundo, uma adolescente solitária que tenta desesperadamente deixar a Terra antes que seja tarde demais, a sua busca por redenção. O júri descreveu Êxodo como sendo uma estória com uma “mensagem bela e profunda”.