Tudo o que aqui &eacute; contado acontece mesmo. As aventuras s&atilde;o reais, como as da vida de cada um de n&oacute;s. Trata-se de um livro autobiogr&aacute;fico febril e impetuoso, como um rio; &agrave;s vezes devastador, mas cheio de sagacidade, de est&iacute;mulos, mordaz.<br />L&ecirc;-se num folgo.<br />Nada do que &eacute; dito &eacute; inven&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o h&aacute; exageros est&eacute;ticos, nem pretens&otilde;es liter&aacute;rias; nada &eacute; romanceado. Este &eacute; o grande poder envolvente de <i>Fulmicotone</i>: uma autenticidade irredut&iacute;vel.<br />Um livro que muitas vezes sacrifica a coer&ecirc;ncia formal &agrave; autenticidade; talvez um tratamento mais racional da narrativa; um certo pudor que sistematicamente &eacute; rasgado com uma pung&ecirc;ncia cir&uacute;rgica de um entomologista que exuma os tumultos mais profundos: a f&uacute;ria cega; o rigor cru da linguagem obscena.<br />Um livro que n&atilde;o teme a ingenuidade, o jorro, as mudan&ccedil;as repentinas de velocidade, de ritmo, de atmosfera, de estilo, de perspectiva. Um livro que poderia ser confuso, desigual, obstinadamente falhado, &eacute; tamb&eacute;m precisamente de tudo isso que lhe adv&eacute;m a sua beleza vulc&acirc;nica.<br />O valor da experi&ecirc;ncia Bettinelli est&aacute; precisamente na absoluta liberdade estil&iacute;stica, de se estar nas tintas para conven&ccedil;&otilde;es, estilismos, &quot;piscadelas&quot;, oportunismos.<br />Pode ser uma &oacute;tima sess&atilde;o de autoterapia, marcada pelos <i>riffs</i> obsessivos dos Led Zeppelin e guiada pela voz quente de Mark Lanegan.<br />Um livro que, na cara do leitor, rejeita toda a mis&eacute;ria &aacute;cida da exist&ecirc;ncia, deixando-o, ao virar a &uacute;ltima p&aacute;gina, com uma inebriante vontade de viver. E com uma deliciosa, incontrol&aacute;vel, como&ccedil;&atilde;o gratificante.<br /><br />A tradu&ccedil;&atilde;o para portugu&ecirc;s de Fulmicotone foi conclu&iacute;da gra&ccedil;as &agrave; colabora&ccedil;&atilde;o de Fernando de Jesus Ferreira.